TRANS-AMAZÔNIA- fragmentos desencontrados (Ditadura Civil-Militar e indígenas na abertura da estrada)

TRANS-AMAZÔNIA- fragmentos desencontrados (Ditadura Civil-Militar e indígenas na abertura da estrada)

A atuação da FUNAI na abertura da Transamazônica foi desastrosa ou quando muito, impotente. Na fala do cacique da aldeia Bela Vista, Manoel Duca, de 52 anos, afirma que "os tenharim tinham muito medo dos trabalhadores da rodovia: 'Só tinham três que representavam o povo, e o resto [estava] escondido no mato'. Afirma que 'a empresa pegou a gente para fazer desmatação', dizendo 'olha aqui o machado, índio: vai abrir a estrada!' Derrubavam as árvores até mesmo dentro d'água, tendo trabalhado um ano de graça 'no cabo do machado' até a localidade Matamata, à margem do rio Aripuanã. O empregados das empreiteiras apenas diziam para os índios nas aldeias: 'Sai da frente!' Comiam pouco entre os turnos de trabalho: 'Eles mandavam em nós que nem preso; quatorze pessoas. A alimentação cultural, as frutas que tinham na frente [do traçado da estrada], nós perdemos. Ficaram com as redinhas de algodão que fazíamos naquele tempo' (COUTINHO, Extraído do “Relatório de avaliação atual dos tenharim (kawahiwa) do rio Marmelos, Estado do Amazonas).
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Porém, em um dos livros de maior circulação no período e que fundamentou trabalhos científicos e didáticos lemos uma outra história, escrita pelos que escreveram a geohistória transamazônica:
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"Felizmente, até hoje [1973] as coisas ocorreram melhor que se esperava. Dois incidentes, sem maior importância, todavia, podem ser lembrados: o ocorrido com os índios Parakanan, quando uma turma de topografia de uma fiema empreiteira, no Sudeste do Pará, foi abordada e alguns homens foram despojados de seus instrumentos de trabalho e roupas; e o sucedido com os índios Krain-a-kore, que foram pouco amistosos com um cabo e um soldado do 9º BEC, em um encontro ocasional, ao Norte do Mato Grosso (REBELO, 1973, p. 170).
Segundo o General Frederico Rondon 'esclareceu': "que a assimilação pelos aborígenes dos nossos padrões de cultura não significaria necesariamente uma escravização ao homem civilizado, já que nós não participamos do segregacionismo racial existente em outros países, principalmente nos Estados Unidos durante a colonização de seu território" (REBELO, p. 170).
"A política indigenista integracionista via na conversão do índio em trabalhador um processo considerado 'civilizatório' nos termos do regime. Em 1972, o superintendente da Funai na época, o general Ismarth de Araújo, explicou ao jornal O Estado de S. Paulo que 'índio integrado é aquele que se converte em mão de obra' e que essa integração se daria de forma 'lenta e harmoniosa'. (memóriadaditadura.org.br)
E assim a história transamazônica foi feita, destituindo e destruindo a geobiografias dos lugares.
O vídeo institucional da ditadura militar sepulta as vidas debaixo da "integração nacional".

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