Escala Geográfica e Subjetividade Vicinal


A escala na geografia depende de um apriorismo lógico que transforma a relação em média - gráfica, numérica - ou em círculos concêntricos com ordem de prioridades: lugares dentro de regiões; territórios dentro e espaços-mundo. Estranhamente a escala é ignorada como construção vivida. Não se deveria negar o perto e o distante, o global e local, mas qual a corporeidade - mais do que ponto de vista - de quem vive estas escalas?

Escala "Fenomenológica" Transamazônica (modelo simplificado)

Uma geografia que não aborde fenomenologicamente a escala perde de vista este chão na qual nos situamos - e de onde nossa situação é percebida e, não raro, construída/imaginada - mesmo que, evidentemente, haja determinações distantes sobre nossa situação, quando pensamos a escala existencialmente o axioma numérico se torna uma derivação e não um a priori, bem como passamos a relacionar ambiente com subjetividade em um sentido que é pessoal, mas também público e político.

Afinal, a escala de uma vicinal é absolutamente diferente para quem trafega por ela em período de chuva ou de seca, para quem está chegando pela primeira vez ou fugindo para salvar a vida. De modo que não é apenas um espaço relativo (posições perspectivas, meios diferentes de percurso) ou relacional (científico oposto ao estético, segundo Harvey, imagino o porquê da oposição), feito da co-presença em um onde de feixes relacionais. Há uma abrangência existencial, de subjetividades (na realidade este é o termo central ao espaço relacional) e que nos ajuda a repensar as escalas não só constituindo-se no espaço-tempo, mas também rompendo o mesmo e, quem sabe, operando outras maneiras de sentir/viver o espaço relacional, que engloba o relativo, o absoluto, mas não as rupturas e saltos "entre" espaços. 
O tempo-espaço vicinal é gigantesco não apenas por ser métrico, ser posicional ou por se constituir em combinações diferenciais de espaço-tempo (sua acumulação desigual), mas porque é reflexivamente construído por indivíduos e coletivos que criam maneiras situadas de se relacionar com este estiramento de subidas e descidas, de poeira e lama, de dor e morte, mas também de sonho e vida... a escala então deve assumir o aspecto subjetivo (o que não quer dizer fechado em si e incomunicável, mas quer dizer não redutível à níveis concêntricos ou matriciais) cuja materialidade pode ser mais evidente em como o som da moto irrompe na paisagem que resiste, abafa o canto momentâneo e regular do pássaro, como o efeito de perspectiva é cortado pela câmera que não o acompanha quando em primeiro plano, como uma descida significa desaparecer ou como a solidão esmagadora se intensifica pelo sol causticante. Métrico, posicional, relacional? Sim. Mas sobretudo um "entre" espectral: a escala do existir.

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