A escola e o habitar vicinal

Os professores e professoras transamazônic@s realizam um processo educativo que nos possibilita conceber o sentido fundamental da escola como construção do habitar, para se aproximar Heidegger (2012).
De muitas maneiras construir é habitar, embora, em nossas sociedades não só desigual, mas fratura - onde a escala da vivência se dá em mundos diferenciais e, por vezes, vampirizantes uns dos outros - a fratura separa quem constrói de um sentido de habitar; por isso mesmo, pensar sobre a relação entre construção e habitação é cada vez mais estranho no mundo contemporâneo.
Olhando as imagens da Semana do Meio Ambiente, desenvolvidas pelo professor Alex de Abreu Cruz em parceria com outros professores da escola Pedro Barbosa (Pacajá), temos um encontro franco entre o construir e o habitar.
Crianças em uma "estrutura do cuidado" da escola. Foto: Alex Cruz, 2016
Obviamente, sabemos da frágil assistência do poder público - a começar pelo municipal - para com as escolas no campo e do campo, ao longo da Transamazônica Paraense. O que impõe, ou exige, uma apropriação de tarefas e comprometimentos que extrapolam as competências dos professores e o aprendizado dos estudantes, alguns podem dizer, não sem razão.
Porém, o que temos de nos perguntar é - Podemos construir para habitar um espaço escolar? Como habitar a escola em ambientes campesinos? Qual o sentido de habitação que se evidencia na relação entre o cuidado da escola e o cuidado de si? São questões que evocam as imagens.
Capinando a lateral da escola, (re)construir relações. Foto: Alex Cruz, 2016
Na medida em que construir deixa de ser um distanciamento para se pôr como processo de habitação - criar um espaço para cuidar-se e libertar-se - os ambientes campesinos são expressões muito elaboradas deste senso de habitação. Pode parecer um certo romantismo, e é, por que não? Todavia, além do romantismo, há os dois pés no chão e as mãos na inchada para cultivar não exatamente a terra, mas uma ambiência coletivamente constituída: habitar.
Reavivando o campinho para o brincar. Foto: Alex Cruz, 2016.
E quando a limpeza, o encontro, a parceria, a divisão de tarefas não hierárquicas, viabiliza um habitar que aconchega a amplifica a relação de-si-com-o-espaço, é possível vislumbrar outras práticas e novas maneiras de sentir e viver a escola, temos a emergência do brincar.
Que o poder público, nas diferentes esferas, possa atentar para realidades como esta e o potencial efetivamente relacional dos jovens campesinos e seus espaços construídos, não por outros, mas por si, a habitação como co-criação geográfica. Aí o brincar, o pensar, o fazer, o sonhar e o aprender, juntos, assume uma centralidade reflexiva que não podemos subestimar em sua potência e ato.
Brincar na escola como habituar-se em estar e ser juntos! Foto: Alex Cruz, 2016

Parabéns ao projeto e ação dos professores e estudantes do campo.


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