De Professor para Professora



Agradeço imensamente as mensagens de carinho e reconhecimento por este dia que é meu e é nosso. Gostaria de deixar registrado minha admiração pelo trabalho diário das professoras e professores na Transamazônica Paraense, em especial na pessoa de Angella Nunes. Mulher, mãe, trabalhadora rural, liderança comunitária e professora, em condições que nos fariam recuar, ela avança! Na escola "José Jacó Chaves", Assentamento Rio Cururuí, Vicinal do Adão, 67 km da Faixa, município de Pacajá. Professora contratada, com meses de salário não pago, enfrenta dois turnos multisseriados de ensino fundamental, alfabetiza ao mesmo tempo que cuida, ampara ao mesmo tempo que dá as lições de matemática, garante a merenda junto às aulas de geografia. A primeira vista, pobreza e carência seriam o atestado de que não é possível educar-se neste lugar, mas a vida das crianças vicinais realiza pequenos milagres desconhecidos.

De modo algum isso implica conformismo e aceitação das condições - Angella Nunes é ferrenha lutadora pela melhoria de sua escola, briga junto à SEMED, mesmo sabendo do risco que é um contratado brigar em ambientes onde se usa politicamente os contratos (e não é assim nos municípios paraenses?). Porém, sua briga não implica cruzar os braços diante de crianças e jovens, de idades entre 5 e 18 anos, que chegam a caminhar até 10 km em busca de educação formal. 

Tive o orgulho de ser seu professor na Graduação em Geografia, descobrindo que sua escrita poética em forma de cordel comunicava realidades espaciais que a academia, míope diante da vida, não compreendia como "escrita científica", fizemos desta escrita viva a matéria base de seu Trabalho de Conclusão de Curso, aprovado com excelência, Porque nada substitui a experiência espacial em ato! Nenhuma empiria metodologicamente coesa, por mais relevante que seja, pode destituir o que corre nas veias! 

Professora Angella Nunes, que atua em uma vicinal que o MEC expulsou de sua amostragem por ser "de difícil acesso", que precisa ir na sede municipal para pegar merenda e livros enfrentando uma estrada vicinal que vocês não imaginam os perigos no inverno, que ergueu a escola junto com estudantes e seus familiares, pequena, simples, mas o lugar de reunião educativa possível, num espaço-limite da existência chamado (Trans)Amazônia. 

Você é minha inspiração!

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