Vidas Vicinais

Crianças caminhando para a escola. Vicinal Cururuí, Pacajá -Pará - Brasil. Imagem: Angella Nunes.
Vicinal significa vizinhança. Relação de proximidade e copresença, experimentação partilhada da existência - livre e/ou imposta. Encontro do e com o outro, que pode tanto levar a desencontros (não raro letais), quanto a criação do novo, tendo em vista o futuro de continuidade encontrada, o que não deixa de ter um forte componente criativo, mas também, inevitavelmente, uma mudança do monólogo para o diálogo, uma escolha pela linguagem, compreendida como expressão humana vivida no tempo e no espaço, não como mero recurso discursivo. Vicinais, sobretudo amazônicas, não existem no plano da geocartografia, o que poderia ser apenas uma incorreção do conhecimento, se impõe como destituição dos que vivem (vicinalmente) do direito de linguagem, a começar pela linguagem cartográfica, do direito de representatividade, a começar pela política da representação, do direito de educar-se, a começar pela negação estatal de sua vontade. Enquanto a geopolítica determinar o debate do que é Amazônia, vamos perpetuar as visões do centro (mesmo e apesar do discurso descolonial), porque quem está na posicionalidade central -na formação do seu espírito humano - não pode, por mais que queira, falar de outras posições, a não ser que se desloque (e o seu olhar) para outras vizinhanças, constitua outras proximidades, experimente novas copresenças e funde novos encontros, ao invés de pretender domínios e enquadrar o outro: como objeto, estatística ou recorte unilateral - de pesquisa. Este, o primeiro ato que decreta a inexistência cientificamente justificada.

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