Belo Monte - A Construção do Deslugar Indígena

Mulheres e crianças em busca de alimento, como peixe.
A Aldeia Poticroo, localizada em Anapu (PA), próxima ao rio Bacajá, afluente do rio Xingu, revela ao nível do cotidiano indígena, os impactos variados do empreedimento de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
A visita realizada pelos estudantes Dieyson da Conceição (Geografia PARFOR-IFPA), Alex Cruz (Geografia PARFOR-IFPA) e Jorkeane Rodrigues (UFPA) revela um processo que precisa ser não apenas problematizado, mas aprofundando - a construção do deslugar a partir de grandes empreendimentos, sem que isso signifique uma desterritorialização.
Peixe e Muqueca, cada vez mais escassos.

A aldeia é constituída por 80 membros, entre jovens e adultos, em um dinâmico processo de transformação recente que impõe uma necessidade urgente de alternativas para conciliar o cotidinao nativo e a modernização forçada. 
O rio Bacajá, que serve a aldeia como lazer, transporte e fonte de alimento, está cada vez mais baixo com o a construção da usina no Xingu, antes peixe e muqueca eram parte da alimentação, agora são os industrializados que, logicamente, precisam ser adquiridos a um preço e exige uma capitalização por parte dos membros da aldeia, de modo que as fontes de reprodução da vida no lugar escapam das mãos dos nativos para ser controladas por terceiros, através de trabalho empregado, de programas governamentais-empresariais ou simples abandono do lugar em busca da cidade.
Os membros que permanecem estão se deslocando dentro da terra da aldeia - já demarcada - para terem maior acesso ao rio, evidenciando a íntima relação dos indígenas com o mesmo.
Professor da aldeia - "nossa língua e cultura estão morrendo".
Outro processo relatado pelo professor da aldeia é a aversão a língua Poticroo, por parte dos jovens e crianças, haja vista o aumento do contato com os "de fora" e com os produtos de fora, há uma tendência a negação da cultura enquanto seu contexto de vida.
A CCBM alega que repassou recursos para a prefeitura com finalidades de construção de acesso viário para a aldeia, porém, perde de vista que o rio não é só mera via de deslocamento, é um elemento fundamental para a construção do pertencimento do grupo a este lugar, assim com sua língua e suas formas de reprodução enquanto grupo.


Rio cada vez mais baixo impôs o deslocamento da sede da aldeia.
Aqui notamos um processo de deslugarização, de perda das relações fortes com o lugar sem que para isso haja desterritorialização, ou seja, retirada da coletivo de nativos. Até que ponto apenas a demarcação de terras ou a ajuda financeira com o discurso de "manter o nativo no local" é tão eficiente e humnitária? 
O espaço pode revelar relações e pode esconder, cabe a nós tirar da invisibilidade estes processos e exigir seu debate para encamimnhar soluções efetivamente humanas.
Não cabe aqui discutir o acesso da tecnologia como forma de "aculturação" seja lá o que isso signifique, os nativos têm direito ao acesso de técnicas, incluindo aí medicamentos e outras melhorias, o que cabe discutir é a imposição da modernização que produz um deslugar, uma perda de pertencimento ou de reconhecimento do próprio espaço e de si mesmo, sendo incluído de maneira marginal nessa dita sociedade modernizadora.
 


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