O Extermínio indígena hoje, no Brasil, não é fruto do acaso das relações - É um projeto justificado pelo mito do polo racionalista da Modernidade
A fala do secretário de Educação de Jacareacanga, município no sudoeste
do Pará, limite com o Amazonas, com uma população de matriz indígena
expressiva: "Não fazemos educação indígena, mas educação para
indígenas", é uma fala emblemática. O "para" aí faz toda a diferença!
Fazer "para" alguém é desqualificar no sentido de entender que
o "alguém" não sabe fazer ou não merece que seja feito do seu jeito,
supondo o "alguém" ignorante e não diferente, inferior e não diverso.
Não se enganem - o que há na Amazônia é um projeto de extermínio
indígena em sentido largo, que menospreza seus aldeamentos no entorno de
Belo Monte, que nega os fluxos de circulação dos rios e a pesca
impactadas por grandes objetos técnicos, que destrói a possibilidade de
educação na língua materna, porque entende que a Língua Portuguesa é a
única possível para afirmação nacional, afinal, supõe-se que não podemos
fazer o esforço de comunicar-se com o outro, logo, negamos ao outro a
possibilidade de fala, não apenas de falar, um cerceamento político que,
no limite, acredita na morte cultural dos outros como única
possibilidade de realizar o progresso - expresso na Bandeira como
metanarrativa de uma nação que se iludiu, acreditando ser una, quando é
estilhaçada, fragmentária, diversa. Sem diálogo não há acesso a política
e sem acesso a política não há construção de transformação possível.
Nos imobilizamos em nós mesmos e seguimos rumo ao progresso firme que
canibaliza lugares, solidariedades, existências, projetos e o próprio
futuro, dos indígenas e o nosso.
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